18 de Setembro de 2008
Cheguei em Logroño hoje depois de uma caminhada de 30 km.
Foi um dia especialmente triste . A dor do corpo e o cansaço físico passaram despercebidos perante tristeza de deixar meus amigos para trás.
É impressionante como nós peregrinos nos apegamos em pouco tempo aos amigos. Já no inicio de minha caminhada , numa subida íngreme nos Pirineus, quando estava recuperando minha respiração passou por mim um coreano quase lambendo o chão de tão arcado por causa da subida e nos comprimentamos quase não conseguindo falar . Logo à noite quando nos reunimos para o jantar no refugio de Orissom , ele (o coreano) mais dois alemães , tornaran-se meus amigos ( de mímica) pois entendiam muito pouco o inglês e muito pouco o espanhol.
Este Coreano passou a nos chamar de : The Orissom Family , Junto com eles fiz amizade com uma austríaca que ficou para traz por caminhar mais devagar, conheci um casal de brasileiros que ficaram em Viana para ver as Touradas a noite , uma outra amiga da Noruega ficou em Viana por estar com tendinite , um de meus amigos alemães está com uma bolha do tamanho do calcanhar inteiro e uma bolha de sangue sob esta. Acompanhei ele até a farmácia antes de ontem e ajudei ele a tratar da bolha. Enfim , nas duas ultimas noites quando nos encontrávamos nos descansos da caminhada e nos albergues era só festa. Saíamos juntos para conhecer os Pueblos e jantávamos todos juntos tomando sempre o melhor vinho da Espanha acompanhado do Menu Peregrino.
Hoje tive que deixa-los para traz! o tempo que eles têm para caminhar é bem maior que o meu, por isso pararam em Ventosa, estavam muito cansados e eu segui para Nájera 10 km a frente.
A nossa despedida foi muito triste ,pois sabíamos que não haveria chance de nos encontrarmos mais.
Aqui no caminho , os vilarejos são próximos um do outro e em quase todos têm albergues, então é muito fácil se perder dos amigos . Segui sozinha minha caminhada e nunca havia sentido uma sensação de abandono e solidão maior que a que senti hoje. Os sentimentos se potencializam no caminho. Segui chorando por todo o restante da caminhada (10 km) pensando no valor das amizades. Tive a oportunidade de pensar nos amigos que me marcaram a vida , desde a infância , e chorava cada vez mais.
Pensei muito na riqueza que representa ter um amigo verdadeiro nesta vida , no que seria minha vida se não fossem os amigos que tenho. Pensei em duas grandes amigas que já morreram , ou melhor, passaram para uma outra vida , senti a presença delas comigo ! a minha emoção foi muito forte. Entrei numa igreja extremamente bonita que não existem palavras para descrever toda aquela beleza! e pedi por todos os meus amigos , conhecidos e pessoas que de uma certa forma fazem parte de minha vida. Gostaria de dar um abraço em cada uma dessas pessoas . Como é bom ter um amigo para abraçar.
Quando cheguei em Nájera , onde estou agora , fui recebida com uma festa promovida pelo Albergue por ser o terceiro dia de feriado pela padroeira da cidade Nossa Senhora de Rioja. Havia uma mesa grande para os peregrinos saborearem uma deliciosa Paeja e o bom vinho espanhol. Apesar da tristeza e da sensação de solidão tenho uma alegria na alma de poder ter a certeza que tenho no Brasil amigos de verdade. Não paro de chorar. Amo todos vocês! seguirei amanhã meu caminho , não sei ainda onde vou parar. Por outro lado foi bom ter continuado sozinha , pois já estava ficando cômodo para mim não prestar atenção nos sinais , meus amigos sempre sabiam onde era o Albergue , onde era o melhor Menu Peregrino , onde era o local em que tomaríamos o café da manhã , sem contar que por causa deles fiquei sem me perder por três dias. Tenho que direcionar minha caminhada sozinha , para aprender a tomar decisões . O caminho nada mais é do que um aprendizado de nossa vida . Sempre fui direcionada ...chegou a hora de tomar meus próprios rumos. Terei que voltar a prestar mais atenção nas setas do caminho para não me perder.